sexta-feira, 9 de setembro de 2011




     A resposta breve e enfática
 à pergunta "Devo bater em meu filho?" é não. Sei que se trata de algo muito mais fácil de ser dito do que de ser feito - e admito ter dado certas palmadas no traseiro de meus filhos em uma ou duas ocasiões, mesmo sabendo que pouco bem fariam e de seus danos potenciais. As informações que possuímos sobre os efeitos da punição física, o que inclui o bater, parecem-me tão claras que é possível uma resposta firme à pergunta.



A curto prazo, bater em uma criança costuma fazer com que ela interrompa determinado tipo de comportamento que desagrada a você, além de parecer causar um efeito temporário de reduzir as chances de a criança repetir o comportamento errado. Pelo fato de ser o que você queria, pode parecer uma boa estratégia. No entanto, até mesmo a curto prazo, há alguns efeitos colaterais negativos. A criança, pode ter interrompido o mau comportamento, embora, após o bater, ela esteja chorando, o que é desagradável. choro é ainda um comportamento que mais espancamento não irá reduzir: é virtualmente impossível fazer com que crianças parem de chorar batendo nelas! Daí que você substitui algo desagradável  por outra coisa também desagradável, sendo que a segunda (o choro) não pode ser tratada com a mesma forma de punição.

Outro efeito colateral a curto prazo é o fato de que você está sendo reforçado por bater, sempre que a criança cessa o mau comportamento após ser espancada. Daí que você está sendo "treinado" para usar o bater da próxima vez, sendo iniciado, assim, um ciclo.

    A longo  prazo, os efeitos são, sem dúvida, negativos. Primeiro, quando você bate, a criança o observa utilizar a força ou violência física como um método de solução de problemas ou para fazer com que as pessoas façam aquilo que você quer. Estará servindo de modelo próprio para um comportamento que você não quer que seu filho utilize com os outros.




    Segundo, através da colocação repetida de sua presença junto com o evento desagradável ou doloroso do espancamento, você está desvalorizando seu próprio valor positivo junto à criança. Com o passar do tempo isso significa que você está menos capacitado a utilizar qualquer espécie de reforço de maneira eficiente. Finalmente, até mesmo um elogio ou afeto seus terão menos poder para influenciar o comportamento de seu filho. Trata-se de preço bastante alto a ser pago.

    Terceiro, há, com freqüência, uma mensagem emocional subjacente bastante forte junto do espancamento - raiva, rejeição, irritação, desgosto em relação à criança. Até mesmo crianças muito pequenas lêem com muita clareza essa mensagem emocional (Rohner, Kean & Cournoyer, 1991). O bater auxilia a criar um clima familiar de rejeição, ao invés de afetuoso, com todas as conseqüências negativas acompanhantes.
    Finalmente, há evidências de pesquisa que dizem que as crianças mais espancadas costumam, com maior freqüência, evidenciar níveis mais elevados de agressão e menos popularidade entre os companheiros, auto-estima mais baixa e maior instabilidade emocional (Rohner et aI., 1991). Elas são menos obedientes com os adultos (Power & Chapieski, 1986). Não são resultados que os pais desejam para seus filhos.

    Não estou dizendo que você jamais deva punir um filho. Estou dizendo que punição física, como o espancamento raramente (ou jamais) constitui uma boa maneira de se fazer isso. Entretanto, que outras formas de controle seriam eficientes? As punições mais eficazes - as que produzem mudanças a longo prazo no comportamento da criança, sem efeitos colaterais indesejados ou negativos - são as utilizadas bem cedo, em determinada seqüência de mau comportamento, com o mais baixo nível de emoção possível e o mais leve nível de punição possível (Patterson, 1975; Holden & West, 1989). Tirar de circulação um brinquedo, quando a criança o usa pela primeira vez para estragar os móveis (ou bater em um irmão), ou, de maneira consistente, acabar com pequenos privilégios, quando a criança se porta mal, mudarão seu comportamento, sobremaneira se os pais são afetuosos, consistentes e firmes quanto às regras. E bastante menos eficiente esperar até que os gritos tenham atingido a um nível agudo, ou até que, pela quarta vez, um adolescente tenha saído de casa sem dizer para onde iria para então gritar, xingar e punir com rigor.
Se você foi criado em uma família em que o bater constituía o método-padrão, pode, simplesmente, não conhecer ainda outras formas. Se você é um destes, aulas sobre parentagem - comumente oferecidas por escolas da comunidade ou por outras organizações comunitárias - podem ser úteis.


Extraído de:







BEE, Helen L. O ciclo vital. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. 656 p.